Em discurso, Jovem Advogada Thálmata Morgana destaca papel importante da Advocacia feminina na busca pela igualdade

16 de setembro de 2024 às 18:09h

Na segunda-feira (16/09), 16 novas Advogadas e novos Advogados foram oficialmente empossados em uma solenidade realizada no auditório Celso Barros Coelho – ESA/OAB. A cerimônia de entrega das carteiras profissionais contou com a presença de familiares, amigos e autoridades jurídicas.

O evento foi marcado por discursos emocionantes e celebração das conquistas individuais e coletivas desses profissionais relembrando a conclusão de um ciclo importante na vida das novas Advogadas e Advogados, que enfrentaram desafios ao longo do período acadêmico.

“O que me inspira é saber que a advocacia continua a evoluir e que cada um de nós tem a responsabilidade de contribuir para um futuro mais justo e igualitário. Espero que, como Advogados e Advogadas, possamos continuar a lutar pela justiça com coragem, ética, compromisso e resiliência”, celebrou a jovem Advogada.

Confira o discurso na íntegra:

Senhoras e senhores, autoridades presentes, colegas advogados e advogadas, familiares e amigos,

Primeiramente, gostaria de ressaltar a grande honra e alegria que é estar aqui hoje para celebrar este momento especial com todos vocês. Agradeço profundamente a presença de cada um e, em especial, o apoio incondicional da minha família, amigos e colegas que me acompanharam ao longo dessa jornada, jornada essa que cada um sabe em seu íntimo o tamanho da sua luta e persistência até chegar a este dia.

De início, eu gostaria de dizer que semana passada eu estava sentada em uma cadeira lá no fundo nesse auditório para acompanhar a solenidade de um amigo, já sabendo que minha solenidade estaria próxima, só não sabia que seria já na segunda. Dado a esse fato, sabendo eu que não sou muito íntima de microfone, resolvi que essa seria uma oportunidade boa pra começar a me desafiar. Como muito ressaltado no nosso meio e sempre bom lembrar, a palavra é o nosso instrumento de trabalho. Um bom advogado clama por uma boa oratória. Com isso, resolvi pensar no que eu falar antes mesmo de correr o risco de ser sorteada.

Bom, ontem à noite estava assistindo um vídeo no YouTube sobre história geral e tava lendo também um livro sobre história do século 20, em ambos notei a luta das mulheres por trás de grandes feitos e conquistas por direitos que alcançaram diversas classes. Então, decidi que falaria brevemente sobre duas figuras importantíssimas no cenário da advocacia em si e mais ainda na feminina.

Meus caros, cabe-nos salientar que a advocacia no Brasil tem uma rica e significativa história, marcada pela contribuição indispensável das mulheres. Nesse viés, não tem como não destacar e enaltecer a pioneira Esperança Garcia, a primeira advogada negra piauiense que em 2017 foi reconhecida pela OAB-PI e em 2022 pelo Conselho Federal da OAB como a primeira advogada brasileira. Esperança Garcia, uma mulher negra, escravizada, que no final do século 18, com uma carta discorreu o que intitulamos por Habeas Corpus, desafiando todas as barreiras raciais e sociais de sua época.

Outro nome fundamental é o de Myrthes Gomes de Campos, a primeira mulher a obter o registro de advogada no Brasil em 1906, depois de anos de tentativa pelo seu reconhecimento. Em sua primeira audiência, Myrthes proferiu um discurso memorável, no qual afirmou:

“Envidarei, portanto, todos os esforços, afim de não rebaixar o nível da Justiça, não comprometer os interesses do meu constituinte, nem deixar uma prova de incapacidade aos adversários da mulher como advogada. 
[…] Cada vez que penetrarmos no templo da Justiça, exercendo a profissão de advogada, que é hoje acessível à mulher, em quase todas as partes do mundo civilizado, […] devemos ter, pelo menos, a consciência da nossa responsabilidade, devemos aplicar todos os meios, para salvar a causa que nos tiver sido confiada. 
[…] Tudo nos faltará: talento, eloquência, e até erudição, mas nunca o sentimento de justiça; por isso, é de esperar que a intervenção da mulher no foro seja benéfica e moralizadora, em vez de prejudicial como pensam os portadores de antigos preconceitos. “

Esse discurso, que nesse mês completa 125 anos, transcende as barreiras do tempo e nos alcança.

Myrthes, abriu portas para futuras gerações de advogados e advogadas. Sua trajetória é um exemplo inspirador de coragem e resiliência. A participação das mulheres nas carreiras jurídicas está em constante expansão. Esse avanço só foi possível graças à atuação de pioneiras que abriram caminhos, assim como de tantas outras figuras marcantes que seguem contribuindo para o fortalecimento da profissão e na busca por uma maior igualdade em relação aos homens.

Hoje, apesar de em números sermos a maioria no campo da advocacia. No âmbito fático, ainda permanecemos em minoria em posições de liderança e decisão. Muitas mulheres estão concentradas nos estágios iniciais da profissão, e a lógica masculina ainda predomina em muitas esferas. É um lembrete de que, apesar dos avanços, há um caminho significativo a percorrer

Devemos nos empenhar em transformar essa realidade, buscando mais ânimo e determinação para promover mudanças reais. É essencial que trabalhemos para garantir que as mulheres tenham oportunidades iguais para alcançar posições de liderança e influenciar a prática da advocacia em todos os níveis.

O que me inspira é saber que a advocacia continua a evoluir e que cada um de nós tem a responsabilidade de contribuir para um futuro mais justo e igualitário. Espero que, como advogados e advogadas, possamos continuar a lutar pela justiça com coragem, ética, compromisso e resiliência.

A mim e aos meus novos colegas que estão começando suas carreiras, eu espero que nunca subestimamos o impacto da nossa dedicação e paixão. O caminho pode ser desafiador, mas cada esforço vale a pena quando se busca a verdade e a justiça.

Que possamos, juntos, construir um futuro em que a advocacia continue a ser uma força poderosa para o bem comum, e que cada um de nós encontre a realização e o propósito em nosso trabalho.

Muito obrigada!